quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Oposição egípcia retira-se das legislativas


CAIRO, 1 dez 2010 (AFP) -Os principais movimentos de oposição islâmicos e leigos decidiram nesta quarta-feira retirar-se das eleições legislativas em curso no Egito, denunciando fraudes em massa e violências em benefício do partido no poder, que os derrotou no primeiro turno.
O Partido Nacional Democrata (PND) do presidente Hosni Mubarak será, assim, quase a única formação presente no segundo turno do domingo, ante alguns pequenos partidos de oposição legais, sem grande número e os independentes.
A decisão da Irmandade Muçulmana, primeira força de oposição, foi tomada e anunciada publicamente pelo líder do grupo, Mohamed Badie.
A Irmandade Muçulmana, que dispunha de 88 cadeiras na assembleia atual, não teve nenhum eleito no primeiro turno no dia 28 de novembro, justificando em comunicado sua retirada.
Banida, mas que apresenta seus candidatos como "independentes", a Irmandade Muçulmana afirma que o fracasso anunciado foi devido a fraudes em massa e a violência praticada contra eles, em particular, as centenas de prisões de seus militantes nas últimas semanas.
O Wafd, o mais importante partido da oposição legal, com seis assentos na Assembleia eleita em 2005, também decidiu se retirar para protestar contra o processo eleitoral, declarou à AFP o secretário-geral da legenda, Mounir Abdel Nour.
"Vamos nos retirar destas eleições e também abdicar dos dois assentos que conquistamos no primeiro turno", disse.
Dos 221 assentos preenchidos no primeiro turno (de um total de 508), 209 foram para o PND, ou seja, 94,5%.
Para o jornal independente al-Chourouq, esses resultados constituem "uma ruptura eleitoral para a oposição".
"Se um partido ganha todas as eleições durante 30 anos sem nenhuma exceção, isso quer dizer que a fraude se tornou uma parte integrante da estrutura do regime", considerou o editor Hassan Nafaa, do jornal independente al-Masri al-Yom.
Essas eleições ocorrem num clima de incerteza política, a um ano das presidenciais, para as quais Mubarak, 82 anos, no poder desde os 29 anos, ainda não disse se irá participar. Mas tudo parece indicar, ao seu redor, que ele brigará por um novo mandato, apesar das interrogações sobre sua saúde.
Observadores egípcios independentes e uma parte da imprensa denunciaram irregularidades através do país em benefício do PND, como urnas com mais votos do que eleitores, compra de votos e envio de homens para intimidar cidadãos, etc.
Em inúmeros lugares, os observadores da sociedade civil e alguns nomeados por candidatos de oposição não puderam entrar nos escritórios eleitorais, nem nos centros de contagem de votos, segundo testemunhas.
Os Estados Unidos, aliado próximo do Egito e um dos principais doadores de ajuda, disseram estar "decepcionados" ante a maneira como a votação foi conduzida julgando "preocupantes" as informações sobre fraudes.
As Relações Exteriores egípcias responderam que essas declarações constituem uma "interferência inaceitável nos assuntos internos" do Egito.
O governo também varreu todas as críticas, afirmando que apenas 1.053 urnas de 89.588, ou seja, 1,2%, haviam sido invalidadas por causa de irregularidades.
O PND afirmou em um comunicado que "o problema das correntes políticas fracas no Egito, é que procuram jogar suas falhas nas costas dos outros. O PND não é responsável pelo fracasso deles. É responsável apenas pela vitória de seus candidatos".

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